Na década de 1970 a professora e pesquisadora Niède Guidon se deslocou do Sudeste do Brasil para se dedicar aos estudos arqueológicos nos rincões do Piauí, especificamente na Serra da Capivara, localizada no sudeste do estado e distante 510 km de Teresina.
Durante todos esses anos dedicados aos estudos, a pesquisadora e toda sua equipe conseguiram revolucionar o mundo com as suas descobertas, principalmente no que diz respeito a história do povoamento do continente americano, que até então se restringia, basicamente, a teoria do Estreito de Bering, que defende que o homem que povoou o nosso continente teria passado por esse estreito, que fica localizado no extremo norte da América, por volta de 12.000 a.C, e povoado, posteriormente, todo o continente americano.
Com o avançar das pesquisas e com um imenso acervo encontrado nas escavações realizadas na referida serra, constatou-se que a presença humana na região data de pelos menos 100.000 anos, e que as características das populações que ali viveram, são diferentes dos povos que habitaram o norte da América. Assim, segundo Niède Guidon, o povoamento do continente americano é muito mais antigo do que se imaginava, e que os primeiros grupos humanos chegaram pelo sul da América, advindos da Ásia, em pequenas embarcações, à procura de alimentos para a subsistência, ao contrário do que se defendia anteriormente.
Em seus estudos, Niède afirma que o povoamento da América ocorreu em momentos distintos e por povos diferentes. Isso justifica, por exemplo, a enorme diversidade cultural presente em todo o continente americano, mas as pesquisas realizadas na Serra da Capivara evidenciam que o homem primitivo já habitava o nosso território bem antes de viver na parte norte da América.
A paulista Niède Guidon, que estudou nos melhores centros arqueológicos franceses, com todos os obstáculos/dificuldades, conseguiu estruturar o Parque Nacional Serra da Capivara da melhor forma possível, para torná-lo um espaço de pesquisas, e para receber milhares de visitantes por ano. Nesse sentido, além da estruturação do parque, criou o belo Museu do Homem Americano, que fica localizado na cidade de São Raimundo Nonato, onde podemos verificar uma infinidade de fontes materiais deixadas pelos nossos ancestrais, que habitaram aquela região em tempos imemoriais.
Há pouco tempo, foi inaugurado o Aeroporto Internacional, depois de longos anos de espera, com o objetivo de favorecer a visitação do parque por pessoas de outros países. Acontece que, infelizmente, para a tristeza de Niède e todos os piauienses, o dito aeroporto, que consumiu mais de 20 milhões de reais, encontra-se fechado, não cumprindo o papel pelo qual foi construído. Além do mais, o projeto de construção de um hotel 5 estrelas nunca foi concretizado, o que dificulta a visitação do parque, uma vez que na região não existe uma rede hoteleira capaz de acomodar muita gente ao mesmo tempo.
Temos uma beleza inigualável, mas ainda estamos longe de implantar uma logística capaz de favorecer o desenvolvimento turístico naquela região que, às vezes, é mais conhecida por pessoas de outros estados e países, do que pelos próprios piauienses que, em regra, têm baixo autoestima e não valorizam a sua riqueza arqueológica, o que é uma pena, pois, como sabemos, quem não valoriza a sua história é fadado ao desprezo e ao domínio.
Mesmo lutando contra todas as adversidades, a incansável Níède Guidon, nunca mediu esforços para a manutenção e ampliação do Parque Nacional Serra da Capivara. Assim, quando quase ninguém acreditava, a pesquisadora conseguiu mais uma de suas grandes empreitadas, quando em dezembro de 2018, inaugurou o Museu da Natureza, um centro de pesquisas e visitas, que muito nos orgulha e não deixa a desejar para nenhum outro museu do mundo, com uma vasta representação da flora e da fauna (com a mais avançada tecnologia digital) presentes na região na época que era habitada pelos homens primitivos.
Nas férias, aproveitei para visitar o Museu da Natureza, onde constatei in loco a gigantesca riqueza natural existente no entorno da Serra da Capivara, inclusive, em uma das amostras disponíveis para os visitantes, tem uma simulação de ondas, referente ao período em que o Piauí era coberto pelas águas marítimas.
Aproveite e visite o Parque Nacional Serra da Capivara e, na mesma viagem, dê uma passada pela Serra das Confusões, localizada em Caracol, um dos maiores parques arqueológicos do Brasil, com uma beleza exuberante e com muitas “pegadas” deixadas pelos homens pré-histórico, como, por exemplo, as pinturas rupestres.
BOM PASSEIO!
Marivaldo Macêdo – Presidente da FEMAN, Advogado e Professor de História.
