AS NOVAS ESPERANÇAS

A escravização dos povos africanos no Brasil teve início em meados do século XVI, com o objetivo de atender aos anseios pecuniários da Coroa lusitana, por meio do famigerado tráfico negreiro. Esse acontecimento, que perdurou por mais de três séculos, foi, sem sombras de dúvidas, o maior crime contra a humanidade que se tem conhecimento, com consequências incomensuráveis até os dias hodiernos.

Durante mais de trezentos anos, os povos escravizados das diversas regiões do continente africano, foram transformados em puros “objetos”, com uma infinidade de deveres e desprovidos de direitos, resultando na perda da própria condição humana, algo deplorável, que mostra a ânsia e a ganância de pessoas que simplesmente visavam o lucro, em detrimento de quaisquer senso de solidariedade e muitos menos de fraternidade.

Um dos exemplos emblemático da condição degradante em que se encontravam os negros escravizados, oriundos da África, foi trazido à tona pela escrava Esperança Garcia, que viveu no século XVIII, na Fazenda Algodões, no atual município de Nazaré do Piauí, sendo alfabetizada pelos padres jesuítas que pregavam naquela região.

Na Carta, datada de 6/9/1770, que foi descoberta pelo historiador Luiz Mott, no Arquivo Público do Piauí, em Teresina/PI, a cativa recorre a Gonçalo Lourenço Botelho de Castro, governador da então capitania do Piauí, requerendo a interferência do gestor, no sentido de coibir ou cessar os castigos e humilhações sofridos pela escrava, juntamente com os seus parentes, como podemos verificar, in verbis:  

“Eu sou uma escrava de Vossa Senhoria da administração do Capitão Antônio Vieira do Couto, casada. Desde que o capitão lá foi administrar que me tirou da fazenda Algodões, onde vivia com o meu marido, para ser cozinheira da sua casa, ainda nela passo muito mal. A primeira é que há grandes trovoadas de pancadas em um filho meu sendo uma criança que lhe fez extrair sangue pela boca, em mim não posso explicar que sou um colchão de pancadas, tanto que caí uma vez do sobrado abaixo peiada; por misericórdia de Deus escapei. A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confessar há três anos. E uma criança minha e duas mais por batizar. Peço a Vossa Senhoria pelo amor de Deus ponha os olhos em mim ordenando digo mandar ao procurador que mande para a fazenda de onde me tirou para eu viver com meu marido e batizar minha filha.”

Em 25 de novembro de 2022, devido a importância de Esperança Garcia, na batalha contra o trabalho subumano, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB), concedeu à cativa, que viveu em solo piauiense, o título de primeira advogada do Brasil, honraria mais do que merecida, para uma mulher que lutou com todas as suas forças e estratégias para se livrar da agonia sofrida naqueles rincões do sertão piauiense.

Com um olhar cirúrgico, o cineasta Douglas Machado dirigiu um documentário sobre a Carta de Esperança Garcia, com às seguintes “esperanças” dos dias atuais: Zezé Motta (atriz global), Tina Ribeiro, Chitara Sousa, Catarina Santos (Diretora da Fundação Educacional Mandacaru – FEMAN), o que nos deixa muito orgulhosos, Luíza Miranda e a ex-governadora, Regina Sousa.

Recentemente, em homenagem aos 80 anos de Zezé Motta, esse documentário foi exibido na Academia Brasileira de Letras (ABL), para ilustres convidados, que puderam acompanhar a bravura de Esperança Garcia, por meio da representação das mencionadas e incansáveis mulheres de nossos tempos.

Destaca-se, que enquanto não chegava o momento de exibição do documentário, que ocorreu no dia 13/6, às 17h30,  as “Novas Esperanças”, participaram de uma visita guiada pela ABL, ocasião em que conheceram o riquíssimo acervo cultural existente naquela centenária instituição brasileira, que teve como um dos fundadores, o genial escritor Machado de Assis.

Vale lembrar que a Carta de Esperança Garcia precisa ser conhecida por todos, especialmente os piauienses. Assim, uma boa programação cultural é assistir ao mencionado documentário, para termos conhecimento desse triste fato que macula a nossa história, com resultados nefastos até os dias atuais.

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